Comando de Prismari e a microeconomia do MOL
Caros, cardnautas, estamos aqui hoje para viajar um pouco no funcionamento da economia no Magic, e como se comporta um de seus mercados mais peculiares, o Magic Online (MOL). Nada mais oportuno para avançarmos nossos assuntos financeiros que a explosão de preço do card no mercado de cards virtuais.
Neste exato momento em que escrevo o artigo, o Comando de Prismari ultrapassou a marca de 50 tixes no MOL, o que na conversão do câmbio daria algo em torno de US$ 40,00 ou R$ 220,00. No entanto, se abrirmos as cotações no mercado internacional ou, até mesmo, em nosso mercado brasileiro, o mesmo card é vendido por US$ 2,99 em grandes varejos e R$ 20,00, em média, no Brasil. Por que essa diferença tão grande? O card funciona diferente no Magic Online? Certamente que não (Embora no lançamento da coleção, tenha acontecido um bug que aumentou o poder do card, este bug já foi consertado e o card segue jogando bastante e vem só aumentando de preço). Então, o que provoca tamanha discrepância?
Primeiramente, para respondermos a pergunta acima, precisamos compreender dois conceitos básicos: a microeconomia e a macroeconomia. Obviamente, daremos uma visão simplificada desses dois conceitos, mas se você quiser se aprofundar sobre esses temas, recomendo uma boa leitura das obras de N. Gregory Mankiw, que publicou alguns “tijolos” (traduza como “livros enormes”) para cada um desses temas. A diferença básica entre os dois é, basicamente, que a microeconomia é o campo que rege um mercado em específico, com suas peculiaridades, enquanto a macroeconomia trata de fatores mais complexos, que vão bem além de um conjunto de várias microeconomias.
Para deixarmos o parágrafo anterior mais claro. Quando falamos da economia do Magic Online, nós tratamos de uma microeconomia, pois se trata de apenas de uma célula do mercado global, apesar de ser constituído de pessoas do mundo inteiro. O MOL possui fatores próprios de oferta e demanda e muitos dos comportamentos dentro do seu mercado não se reproduzem em outros mercados. Podemos dizer, inclusive, que o Magic Online é praticamente uma microeconomia unicelular, por não haver divisões em mercados menores.
Por sua vez, o mercado do aplicativo compõe o mercado internacional de Magic, que, pasmem, também é uma microeconomia. Embora, seja formado por um conjunto de várias microeconomias, o mercado internacional de Magic apenas adiciona fatores de inter-relação entre essas economias e estabelece suas próprias regras de oferta e demanda, que podem ou não ser seguidas pelos mercados menores.
Isto significa que a macroeconomia é dispensável para nossa compreensão do mercado do Magic? De jeito nenhum! A macroeconomia envolve justamente fatores globais que afetam todos os mercados, como, por exemplo, câmbio, desemprego, taxa de juros. A pandemia do Covid-19, por exemplo, seria um caso de impacto macroeconômico.
Com efeito, depois desse pequeno passeio conceitual, devemos dar nosso próximo passo sob a luz de uma visão microeconômica. O Magic Online possui diversos fenômenos peculiares e irei mostrar alguns deles utilizando apenas um card. Então, “o que provoca tamanha discrepância”?
O MOL é um aplicativo muito antigo, sendo lançado no dia 24 de junho de 2002, ou seja, falamos de um programa que segue relevante há quase 20 anos! Sua interface sempre foi arcaica e mesmo assim, muitos jogadores profissionais e especialistas continuam a utilizá-lo. Com o advento do Magic Arena, muitos usuários abandonaram a plataforma, chegando à especulação de que o aplicativo iria ser descontinuado, porém essa onda de pânico apenas se transformou em uma oportunidade única para enriquecimento de alguns atores. Hoje, o público do MOL é menor, porém a sua relevância como mercado jamais diminuiu.
Nesse vértice, farei apontamentos embrionários. O Magic Online é um jogo-aplicativo “sui generis”. A negociação entre usuários é aberta e não há apenas a troca de cards, mas uma troca com o envolvimento monetário, através do tix. O tix é, em tese, a representação de um dólar americano, mas seu valor real possui uma volatilidade muito maior, visto que os usuários negociam a moeda fora do aplicativo também.
Além de um mercado formalizado, o Magic Online possui o “redeem” (Redenção, no sentido de “resgate”), em que o usuário ao completar uma coleção no aplicativo, pode solicitar a troca da coleção online por uma versão física, pagando uma taxa e frete. Sem adentrar em detalhes, este é um dos mecanismos que mais aproxima o mercado virtual do MOL do mercado de cards físicos. Porém, cabe ressaltar que existe um prazo para resgatar os cards para o físico e, atualmente, os usuários do aplicativo possuem apenas alguns meses para poderem fazer a conversão do virtual para cards de papel.
Por conta do prazo limite para executar o “redeem”, o Magic Online ainda possui – entre os usuários – um acervo de cards que serão para sempre virtuais (ou até que a Wizards/Hasbro mude de ideia). Então, logo que uma coleção deixa de ser válida para o resgate de cópias físicas, os valores no mercado do MOL despencam. Com isso, temos que a possibilidade de resgatar um card no MOL para o campo do Magic físico agrega um valor notável.
Fora a singularidade do “redeem”, o Magic Online é o único aplicativo oficial que abraça a possibilidade de jogo em múltiplos formatos, incluindo torneios de relevância para a construção de diversos metagames. Atualmente, com o advento da pandemia, formatos que são dependentes do espaço físico das lojas, como o Pioneer, sobrevivem graças ao fomento no MOL. Logo, é através do Magic Online, que até mesmo os jogadores do Magic físico absorvem informação para decidir o que investir nos formatos.
Seguindo, então, os fatores elencados, podemos pegar o destaque de hoje que é o Comando de Prismari. Este card vem desempenhando o papel de protagonista em vários eventos T2 na plataforma e, inclusive, marcando presença em decks do Modern. Some-se isso ao fato de que a coleção Strixhaven acabou de ser lançada e que há poucas cópias desse card circulando na plataforma. E some-se ainda a necessidade de se ter uma cópia de Comando de Prismari para que o usuário possa realizar um “redeem” de Strixhaven. Considerando que o MOL não é nem um pouco atraente ao novo público, por possuir uma plataforma bem arcaica visualmente, o potencial de valorização para uma nova “staple” é exponencial. Veja resultado no mtggoldfish:
Contudo, esta valorização de 50 tix do Comando de Prismari fica restrita ao MOL, já que o preço no físico do mesmo card é de apenas US$ 3,00? A resposta não é tão simples, pois existem outros fatores que vão agregar ou não valor ao card. Embora o Magic Arena e o Magic Online já estejam com Strixhaven em atividade, a estreia oficial da coleção no físico será apenas agora no dia 23 de abril. Neste eixo, temos as lojas ainda em processo de recuperação de capital advindo dos investimentos no material da coleção e boa parte dos atores do mercado ainda não se posicionou sobre o potencial dos novos cards.
Além disso, o principal fator, que gera o eixo de imprevisibilidade do mercado, é o fator humano. Por mais que você tenha diversos indicadores apontando para uma possível valorização, se o fator humano não se mobilizar, o seu investimento não decola. Da mesma forma que o fator humano contribuiu com uma demanda descontrolada no Magic Online, o mesmo fator humano pode ditar rumos diferentes em cada mercado externo ao MOL. Porém, cuidado: muitas vezes, os indicadores no MOL ditam os movimentos dos mercados físicos, mesmo que não imediatamente. E é por isso, que para obter sucesso no campo financeiro do Magic, o investidor deve acompanhar os movimentos do Magic Online.
Dessarte, finalizo este artigo, apontando de forma cristalina, que nossa jornada está apenas começando e que todos os elementos aqui levantados ainda carecem de estudos mais minuciosos. Contudo, tais assuntos serão temas de artigos futuros. No mais, não deixe de comentar sua opinião ou dúvida e/ou sugestões para que possamos avançar ainda mais nessa reflexão sobre o mundo financeiro do Magic. Até a próxima!