strixhaven

Por que Strixhaven desvalorizou tanto?

Caros, Cardnautas. No artigo de hoje, irei falar sobre a forte desvalorização da coleção Strixhaven , buscando apontar os fatores que levaram a tamanha perda e como se pode tirar informações positivas para investimento.

Lançamento de Strixhaven

No final de abril, tivemos o lançamento da coleção Strixhaven: Escola de Magos, uma tentativa da Wizards of the Coast em replicar o mundo de fantasia de Harry Potter, utilizando o background do mundo do próprio Magic, the Gathering. Apesar do enredo ser bem fraquinho, no que tange ilustração e até design dos cards, a coleção ficou fantástica. O que muitos na comunidade do jogo reclamam é do power level (nível de poder: quão poderoso e efetivo é um card), ao indicarem uma baixa influência da coleção nos formatos competitivos.

Strixhaven e power level

Desarte, poderíamos facilmente apontar que a desvalorização estaria na informação do parágrafo anterior: power level. No entanto, desde Theros para cá, todas as coleções novas que entram no formato padrão (standard) apresentam dificuldades em impactar o metagame pela presença de Trono de Eldraine. Porém, após alguns meses de lançamento, todas essas coleções passaram a ter uma participação maior e isto devido aos seguintes fatores: número elevado de banimentos; novas interações com coleções futuras; e, os jogadores, finalmente, descobrem estratégias efetivas, que não estavam no radar da comunidade durante o lançamento.

Strixhaven e tempo

Nesta égide, observa-se que uma coleção nova precisa de um determinado tempo para que seus cards sejam efetivamente utilizados nos formatos. Logo, tempo é o primeiro fator que deve ser apontado como influenciador na desvalorização dos cards de Strixhaven. Porém, o que está acontecendo exatamente? O que os indicadores apontam é um problema na agenda de lançamento da Wizards/Hasbro. Enquanto Kaldheim não encerrou seu ciclo de maturação no mercado, tivemos o lançamento de Time Spiral Remastered, que afetou bastante o giro de vendas e um produto que naufragou, que foi Challenger Decks 2021. Este último teve ainda problema no prazo de entrega, sendo um produto praticamente esquecido. E com tudo isso, tivemos o lançamento de Strixhaven, no dia 23 de abril.

Não bastasse todos esses lançamentos truncados, assim que entramos na semana de lançamento da coleção, já foi dado início a pré-venda de Modern Horizons 2, que lança no dia 11 de junho. Aliado a isso, a divulgação de spoilers de Strixhaven foi aglutinada em duas semanas, para que fosse possível divulgar os spoiler de Commander 2021. Você já deve estar se perguntando se isso não é o suficiente para que um produto desempenhe abaixo do esperado, e eu afirmo: é.

Excesso e Strixhaven

Porém, não é somente isso que impacta o valor de mercado de Strixhaven. Antes de passarmos aos próximos fatores, vamos resumir os problemas relacionados ao tempo. Essa confusão no calendário de lançamento provoca uma falta de interesse de demanda, visto que os compradores acabam dividindo sua atenção com vários produtos, que ainda não completaram seu ciclo no mercado. Ademais, um fator importante na decisão de compra é o apelo emocional. Se a empresa não constrói uma narrativa cativante, o cliente não se sentirá compelido emocionalmente a comprar. Logo, ele apenas comprará aquilo que julgar objetivamente necessário. E para construir uma narrativa de marketing é necessário tempo para conseguir entrar na cabeça do público consumidor. Assim, podemos concluir que esse excesso de produtos gera uma apatia na demanda.

Por outro vértice, não é correto afirmar que as vendas de Strixhaven foram ruins. Fato é que esta coleção teve um volume de vendas de material selado considerável, com esgotamento de alguns produtos. Isto nos leva a um segundo fator, que é a desvalorização provocada pela pulverização do material de origem (selado). Quando o consumidor final abre bastante material selado, a desvalorização das singles é maior, pois o preço praticado por aquele não segue diretrizes de sustentabilidade. Em outras palavras, o consumidor não vende ou troca seu card com a obrigação de ter uma margem de lucro, ele não paga tributos, ele não tem uma série de custos vinculados, como uma loja tem (aluguel, funcionários, etc). Com isso, o ativo que vem do consumidor é muito mais barato. Porém, os valores praticados pelo cliente afetam o mercado como um todo, e assim, a oferta proveniente das lojas sofre essa influência e assim temos uma desvalorização em todos os preços do mercado de Strixhaven.

Sobre o que concerne o power level, uma análise mais minuciosa do metagame aponta que a coleção ainda impacta muito pouco, mas tem seus méritos. Atualmente, o deck que mais se utiliza da coleção é o UR Midrange, que está sempre ganhando torneios no Magic Online. Aqui voltamos a destacar a importância do Magic Online (MOL) como campo pra vislumbrar tendências (Leia este artigo Magic online). Porém, também é importante frisar que como o público do MOL é muito mais seleto, o impacto em todo o meta costuma demorar um pouco mais. Hoje, sabemos que a maior parte dos jogadores online está no Magic Arena, e diferente do MOL, decks medianos acabam conseguindo resultado, visto que atingir a classificação no Mítico é mais uma questão de vencer mais partidas, do que vencer um evento de forma invicta.

Agora, se a coleção tem baixo impacto no competitivo, por que ela vendeu tanto material selado? A resposta é Commander. Muitos dos cards de Strixhaven possuem efeitos interessantes ao formato e ao invés de termos uma demanda específica de determinados cards, muito simplesmente compraram uma booster box para ter uma variedade de cards da coleção. Se no momento, a coleção não oferece um atrativo financeiro, no quesito diversão, ela funciona perfeitamente. Os próprios decks do Commander 2021, também baseados em Strixhaven, não apresentaram cards absurdamente poderosos, mas tivemos muito mais cards interessantes e funcionais, levando a uma demanda mais pulverizada.

Mystical archive e Strixhaven

Outro fator importante, sendo este peculiar da coleção, são as Mystical Archives. Em Strixhaven, cada booster veio com um dos 63 desses cards especiais, sendo que as collectors boxes tinham 3 por booster, com pelo menos uma arte japonesa. Devido à presença de alguns reprints conhecidamente poderosos e valiosos, a presença das Mystical Archives provocou uma rápida desvalorização dos cards de Strixhaven. Este fenômeno não é inédito no Magic, pois já tivemos efeito similar com Batalha de Zendikar, por conta das Expeditions. Cards como Demonic Tutor e Tainted Pact, mesmo sofrendo desvalorização, dificilmente ficarão abaixo de R$100,00, o que contribui bastante para a deterioração  dos preços dos demais cards da coleção.

Set boxes e Collector boxes

Há ainda outros fatores que influenciam a precificação no mercado, como a existência de Set boxes e Collector boxes, mas entendo que este assunto pode ser tratado de forma minuciosa em artigos futuros. Contudo, o que podemos tirar de lição com todos esses indicadores é que Strixhaven tende a gerar uma boa oportunidade de investimento.

Observando que os preços de várias singles estão na faixa de centavos, incluindo os de raras, a tendência é que as lojas abram menos material e, por tabela, os consumidores passam a ter menos interessante também em comprar e abrir material selado. Hoje, o EV (Estimated Value = valor estimado médio) de Strixhaven é um pouco mais da metade do valor que se paga pela booster box, logo, abrir uma box da nova coleção leva a uma grande probabilidade de prejuízo. Assim, o interesse da demanda começa a migrar novamente para a compra de singles, o que leva, naturalmente, a uma revalorização dos cards.

Oportunidade de investimento

Ademais, é perceptível que muitos atores no mercado estão centralizando seus ganhos nas vendas das Mystical Archive, fazendo com que raras com potencial de jogo sejam vendidas por menos de R$0,20! Quando temos agentes negociando ativos a preços praticamente nulos, temos aí uma oportunidade perfeita, onde o risco de prejuízo é baixo e a chance de sucesso com o investimento é alto. No próprio mercado do Magic já tivemos várias situações semelhantes e uma bem emblemática foi com Conspiracy: Take the Crown, onde, internacionalmente, vários cards de alto poder chegaram a ser negociados por centavos.

Strixhaven e Trono de Eldraine

Com efeito, Strixhaven lembra para mim, em menor escala, uma situação parecida com a de Campeões de Kamigawa. O bloco, na ocasião, tinha um enredo interessante, mas foi totalmente ofuscado pela existência do bloco de Mirrodin. Temos hoje um acontecimento semelhante, visto que Trono de Eldraine, mesmo com todos os banimentos, ainda é uma coleção muito fora da curva, em termos de power level, o que dificulta o encaixe das novas edições. Porém, assim como Kamigawa, vejo muito potencial de mercado em Strixhaven, principalmente, no fato de que esta coleção investiu a sua força em mágicas instantâneas e feitiços, algo que já emitiu resultado no Pioneer, com o fortalecimento do deck Niv to Light.

Conclusão

Por fim, através deste artigo verificamos que Strixhaven teve uma forte pulverização nos preços das singles, provocada por diversos fatores, atingindo um valor tão baixo no mercado, indicando grande potencial de investimento e retorno a médio prazo. Destaco aqui que um bom investidor deve ter a virtude da paciência, o que traduzindo no contexto, significa que vale a pena comprar várias singles de Strixhaven e esperar pela rotação em outubro para colher resultados.